Andorinha voa, voa que o teu ninho está em Lisboa

Andorinha de Rafael Bordalo Pinheiro
Num não acabar de comemorações, hoje temos o Dia Mundial da Poesia, da Floresta, Síndrome Down, luta contra a discriminação racial e o aniversário de Rafael Bordalo Pinheiro (e tantos outros que me escapam de certeza)...

E as andorinhas do Bordalo Pinheiro rimam bem com este dia poético.

Andorinha aponta as coordenadas na direcção do calor e retorna sempre ao seu ninho. Ontem, pude ver e ouvir duas andorinhas (suponho que um macho e uma fêmea) que, finalmente, chegaram ao seu destino de calor, ao seu ninho. Tudo estava planeado: "chegamos e teremos lindos meninos!" Mas à chegada depararam-se com a pior notícia... o seu ninho já não as aguardava. Por debaixo do tecto já não existiam os paus e a lama que outrora serviram para um ninho de amor. Elas andavam desnorteadas e fizeram várias investidas ao local de forma a confirmar aquela desgraça. Tiveram a ilusão de que o ninho ainda se mantinha mas não, agora resta apenas um pequeno tubo enfiado na parede. O ninho fora retirado uns meses antes devido à sujidade que os seus ocupantes provocam. E eu imaginei-me a chegar ao meu ninho depois de uma longa viagem e a deparar-me com a sua destruição. E a sensação não é boa, nada boa. Aquelas andorinhas devem ter sentido uma traição tamanha, devem odiar quem por ali passa e, depois de uma longa viagem, vão ter de ganhar forças para voltar a construir mais um ninho. Em altura de mudanças do meu ninho sinto-me, mais do que o habitual, uma destas andorinhas. Os senhores governantes destruíram a lama e os paus com que eu tinha construído o meu ninho, obrigaram-me a sair dele e forçam-me a ter forças para construir outro. Apetece-me investir em cima deles e picar-lhes a cabeça, a vida. Mas, como andorinha que sou, vou olhar com atenção para mais um local abrigado onde possa construir o meu ninho de amor, juntar paus e lama e ter esperança que o próximo não seja destruído. Construirei um ninho que seja forte, que tenha vigas de amor, janelas e portas de liberdade, paredes forradas de belas palavras e um tecto que me deixe sentir o calor do sol e ver a luz do luar. Voarei como elas, nunca desistindo e aceitando o que de bom uma mudança traz. Eles, continuaram cá por baixo à espreita e eu, com a certeza, de que eles nunca conseguiram voar, são fracos de coração. Nós, as andorinhas, continuaremos com um coração cheio, aquecido pelo sol e pelo muito amor que nos sustenta. Construiremos sempre que nos derrubarem, e a força vem de sabermos que, o que importa, é o amor que está dentro de cada ninho.   

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