Mataram o amor


Retirado daqui One woman show blog

e como dizem os meus alunos "faço minhas as tuas palavras e acrescento: que nos matem o amor mas com dignidade e respeito!"


Mataram o amor. Viva o amor!

O luto do amor é uma dor que não tem direito a três dias de dispensa no trabalho. É dor que não merece os "sentimentos" de ninguém, nem palmadas nas costas, nem alteração do estado no BI
Texto de Cátia Domingues • 04/11/2013 - 11:39


Se o amor tem um luto, o meu foi ontem a enterrar, e a semana não acabará sem que a missa de sétimo dia aconteça.

Na verdade, só o amor sentido é que se veste de negro. É o que se carpe. Amor que é amor é amor fadista de xaile negro pelas costas... é amor que se ama de olhos fechados. É amor em si, em lá e dó.

O amor de verdade tem um corpo que demora a arrefecer, às vezes uma vida inteira. E uma vida inteira é muito tempo. E agora, seguem-se os cinco passos do luto, tão estúpidos quanto humanos.

1. Negação e isolamento: "Isto não pode estar a acontecer. Não pode."

2. Raiva: "É tão injusto. Eu dei tanto. Eu fiz tanto. Eu ainda gosto tanto. Tanto."

3. Negociação e diálogo: "Vou tentar ver o lado positivo. E é desta que vou começar a ir religiosamente ao ginásio."

4. Depressão: "Não consigo. Estou tão triste. É tão frustrante. Será que alguma vez vai passar?"

5. Aceitação: "Vai. Vai passar."

É um amor que não recebe visitas, que não se celebra nunca, que não recebe flores, nem para inglês ver, nem sequer em dia de finados.

É a dor que não tem direito a três dias de dispensa no trabalho. É dor que não merece os "sentimentos" de ninguém, nem palmadas nas costas, nem alteração do estado no bilhete de identidade. 

E porque raio é que isto é menos do que um luto a sério, mesmo quando não é um luto a brincar? Quando se despede de alguém que se ama, iça-se a bandeira a meia-haste e faz-se feriado pessoal.

Esta eterna saudade é verdadeira. Mesmo quando se corre o risco de ver o finado numa noite no Cais do Sodré.

O verdadeiro amor, raramente falece de morte natural. Geralmente é brutalmente assassinado, digno de capa do "Correio da Manhã". Julgado como crime passional numa trágico-comédia de sala de psicólogo.

"É uma pena, ninguém estava à espera. Era um amor tão novo."

Queres saber como é que reages ao luto? Lutando.

Comentários

  1. Bonita reflexão... Uma das armas de luta é esta... escrevendo...
    Uma coisa que me mete confusão nesta minha alma amorosa imatura é quando me dizem sobre o fim: "vê o lado bom/positivo, a lição que podes aprender". Estas palavras deviam ser proibidas de dizer e ouvir nos primeiros dias...

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