Sábado de vendavais
Sérgio Niza, no Sábado Pedagógico do Movimento da Escola Moderna (19 janeiro 2013) |
Hoje
foi dia de vários vendavais. Vendaval na pele e na memória.
O
dia começou cedo e cá fora tudo bailava, não percebi bem o ritmo da dança, só sabia que não era nada calmo. Eu desconfiava que o vendaval não ia ficar por ali... bem dito,
melhor feito. Avisei o Tico e o Teco para estarem alerta porque o momento
exigia que todos os nossos poros estivessem permeáveis.
Lá
fora e cá dentro o alerta era vermelho!
O
vendaval que me sacudia a pele, que me partia dois guarda-chuva e que me
encaracolava a cabeleira teimava em incomodar e permanecer. Por outro lado, o vendaval que
me sacudia a memória tinha como nome Sérgio Niza, e as palavras que serviam de
mote à tempestade eram: “De onde vem a política dos resultados escolares e como
enfrentá-la”. As palavras certas para formar um redemoinho, um tsunami, um
furacão na nossa mente. Assisti ao Sábado Pedagógico, organizado pelos núcleos regionais de Setúbal e de Almada/Seixal, onde também comunicou este grande pensador da educação,
de uma sensibilidade extrema e fundador do Movimento da Escola Moderna. Ao longo do plenário
senti-me uma privilegiada por estar perto de tantos profissionais da educação
tão válidos, conscientes, empreendedores, lutadores e apaixonados. Sérgio Niza
banha-nos com uma lição de história acerca da “Docimocracia” um termo utilizado
por Rui Grácio, que nos fala acerca do poder exercido pelo governo, sobre nós,
através das provas e exames. Fala-nos também sobre a “Meritocracia” e do que o despacho
normativo nº24-A/2012 Despacho Normativo nº24-A que regulamenta a avaliação no ensino básico e do que o seu
artigo 10º (Avaliação Sumativa Externa) permite aos professores, na questão da avaliação. Há leis que contém frinchas e
funcionam como janelas entre abertas que ainda ninguém (leia-se governantes)
deu por elas. Ainda permite porque, nos dias que correm muitos professores são
“convidados” a prevaricar a lei, a educação. Quando os Cratos derem por estas janelas de
oportunidade, de certeza que as retificarão e recuaremos mais uma década na
escola. Sérgio Niza, no seu discurso em tom sábio, avisa-nos que é
o cidadão que responde à lei, e não a escola. E que, se esta nos obriga a
prevaricar a lei, então que peçamos uma declaração à escola em como nos estão a
obrigar a ser delinquentes! É bom sentirmos que estamos juntos, que temos mais
gente ao nosso lado a defender uma verdadeira educação e a dar-lhe sentido. Já
quase no final registei estas frases ditas pelo Sérgio Niza:
“Os
nossos alunos têm direito ao ingresso e ao sucesso.”
“Nós,
educadores profissionais, somos intermediários do passado e da cultura. “
“
Ser um Educador profissional é uma profissão de ética e cidadania.”
Depois
deste vendaval seguiu-se outro, a Inácia Santana a comunicar sobre “Iniciação e
desenvolvimento da escrita”. Ouvi-la falar acerca do primeiro ano, da leitura e
da escrita e do seu trabalho fez-me sentir, de novo, o quanto eu sou uma privilegiada
e o quanto me sinto em casa, junto deste povo.
Quando
cheguei a casa fui buscar o livro do Sérgio Niza “Sérgio Niza escritos sobre educação" (2012) da editora Tinta da China onde, na décima sétima página, podemos ler a seguinte afirmação do autor:
“Ou a nossa escola é, por aspiração, por esforço, uma construção permanentemente ética e democrática, ou não teremos nunca uma democracia. É este o caminho que perseguimos: caminho duro, perturbante para muitos. Por isso muitos desistem, porque não querem ter tanto trabalho com uma profissão que é tão dura, tão violenta. Para nós, ética, pedagogia e democracia são exatamente a mesma coisa. Daí esta exigência que nos impomos”
Foi realmente uma manhã de sábado extremamente rica que nos abana de tal forma com o vento abanava tudo lá fora! Ouvir o Sérgio Niza é sempre uma delícia e uma enorme riqueza para a nossa construção não só como profissionais de educação, mas também e simplesmente como cidadãos conscientes das dificuldades que todos atravessamos e o quão importante e crucial é a nossa acção junto das crianças.
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