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Resgatar o riso

Nos últimos tempos acredito que o maior resgate não é o dos bancos, de Portugal, Grécia, Turquia ou Itália... é o do riso de cada um. Em tantos rostos ele vai desaparecendo, e em tantos outros já sumiu por completo. O seu sequestro foi feito. O lugar onde lhe escondem a liberdade é secreto, e somente cada um de nós sabe a pista certa para lá chegar. Não me escondam o vosso sorriso, nem sequestrem o meu. Sacudamos a poeira que os lábios carregam, e deixemos que os cantos da boca se voltem novamente para o caminho do céu! "O teu riso Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, mas não me tires o teu riso. Não me tires a rosa, a lança que desfolhas, a água que de súbito brota da tua alegria, a repentina onda de prata que em ti nasce. A minha luta é dura e regresso com os olhos cansados às vezes por ver que a terra não muda, mas ao entrar teu riso sobe ao céu a procurar-me e abre-me todas as portas da vida. Meu amor, nos momentos mais escuros solta o teu riso e se de súbito vires q...

Vindima Literária - José Mário Branco

Numa Liberdade que a inquietação nos dá...   porque sem elas deixamos de respirar, lutar e avançar!  Inquietação (voz JP Simões) José Mário Branco A contas com o bem que tu me fazes A contas com o mal por que passei Com tantas guerras que travei Já não sei fazer as pazes São flores aos milhões entre ruínas Meu peito feito campo de batalha Cada alvorada que me ensinas Oiro em pó que o vento espalha Cá dentro inquietação, inquietação É só inquietação, inquietação Porquê, não sei Porquê, não sei Porquê, não sei ainda Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer Qualquer coisa que eu devia perceber Porquê, não sei Porquê, não sei Porquê, não sei ainda Ensinas-me fazer tantas perguntas Na volta das respostas que eu trazia Quantas promessas eu faria Se as cumprisse todas juntas Não largues esta mão no torvelinho Pois falta sempre pouco para chegar Eu não meti o barco ao mar Pra ficar pelo caminho Cá dentro inquietação, inquietação É só inquietação, inquietação Porqu...

Vindima Literária - Manuel António Pina

Amor como em Casa Regresso devagar ao teu  sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que  não é nada comigo. Distraído percorro  o caminho familiar da saudade,  pequeninas coisas me prendem,  uma tarde num café, um livro. Devagar  te amo e às vezes depressa,  meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,  regresso devagar a tua casa,  compro um livro, entro no  amor como em casa. Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde" O aviador interior ... embora às vezes não pareça, embora te digam que não, tens um campo de aviação dentro da tua cabeça! Manuel António Pina, in "O pássaro da cabeça"

Vindíma literária - colheita de Vitorino Nemésio

O menino desenha O menino desenha. O pólen do seu lápis cai nas flores maltratadas; no papel, a mãezinha é apenas uma bolha. O menino risca e pede a Deus que o seu pai venha ver estas coisas desenhadas. A irmãzinha mais moça, quer o lápis e olha, uma lágrima em bico o seu olhar envidraça; a chuva do menino são uns pontos tão depressa que o lápis se estilhaça. O menino faz o galo, a torre, a casa e o judeu, que mostra aos outros meninos: mas a casa é que tem as pernas e o galo é que abre janelas, a torre é que usa as barbas e o judeu tem os sinos por não ter nada de seu. Oh meu rico menino, que fazes as coisas belas! A irmã mais velha do menino há-de ser a mãe dos sobrinhos que desenharão também o tio com uma bolha, como ele vê em bolha a sua mãe. "Tem óculos, não está quieta e é muito boa"; o menino garatuja, e vê-se a luz e os vidros, e até a bondade que veio à sua mão suja do lado em que estava a pessoa. O irmãozito do menino também está metido, e ...

Vindíma literária: El ABC del amor

É uma espécie de bíblia para mim. Cruzámo-nos há uns anos, em Beja, no encontro  Palavras Andarilhas , pela voz de um contador de histórias sul americano.  Leio-o inúmeras vezes e fico com a alma cheia.  Senhoras e senhores, em português ou espanhol, façam o favor de o ler até ao fim e de espalhar a notícia... El ABC del amor (adaptación) Carlos Ortiz, Colombiano "En las mañanas llego a las clases. En clase de español. compongo todos los versos alusivos a lo que siento por ti. En clase de historia, que es la segunda de la mañana y que me encanta, me remonto al primer instante en que te vi diectamente a los ojos y supe que te amaba ahora y para siempre. En la clase de ecologia, recuerdo que eres para mi, tierra, sol, agua, mineral!; que te amo naturalmente porque tus ojos son como dos destellos de luz que alumbran mi mañana. En clase de matemáticas, sumo, resto, multiplico y divido los instantes que hemos pasado juntos y que son maravilhos...

Vindíma literária: colheita da vinha de Pablo Neruda

O teu riso   Tira-me o pão, se quiseres,   tira-me o ar, mas não   me tires o teu riso.   Não me tires a rosa,   a lança que desfolhas,   a água que de súbito   brota da tua alegria,   a repentina onda   de prata que em ti nasce.   A minha luta é dura e regresso   com os olhos cansados   às vezes por ver   que a terra não muda,   mas ao entrar teu riso   sobe ao céu a procurar-me   e abre-me todas   as portas da vida.   Meu amor, nos momentos   mais escuros solta   o teu riso e se de súbito   vires que o meu sangue mancha   as pedras da rua,   ri, porque o teu riso   será para as minhas mãos   como uma espada fresca.   À beira do mar, no outono,   teu riso deve erguer   sua cascata de espuma,   e na primavera, amor,   quero teu riso como   a flor que esperava,   a flor azul, a rosa   da minha pátria sonora.   Ri-te da n...

Sábado de vendavais

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Sérgio Niza, no Sábado Pedagógico do Movimento da Escola Moderna (19 janeiro 2013) Hoje foi dia de vários vendavais.  Vendaval na pele e na memória. O dia começou cedo e cá fora tudo bailava, não percebi bem o ritmo da dança, só sabia que não era nada calmo. Eu desconfiava que o vendaval não ia ficar por ali... bem dito, melhor feito. Avisei o Tico e o Teco para estarem alerta porque o momento exigia que todos os nossos poros estivessem permeáveis. Lá fora e cá dentro o alerta era vermelho! O vendaval que me sacudia a pele, que me partia dois guarda-chuva e que me encaracolava a cabeleira teimava em incomodar e permanecer. Por outro lado, o vendaval que me sacudia a memória tinha como nome  Sérgio Niza , e as palavras que serviam de mote à tempestade eram: “De onde vem a política dos resultados escolares e como enfrentá-la”. As palavras certas para formar um redemoinho, um tsunami, um furacão na nossa mente. Assisti ao Sábado Pedagógico,  organiz...

Bago a bago com Arun Gandhi

"Eu tinha 16 anos e vivia com meus pais na instituição que o meu avô fundou, e que ficava a 18 milhas da cidade de Durban, na África do Sul. Vivíamos no interior, em meio aos canaviais, e não tínhamos vizinhos; por isso as minhas irmãs e eu ficávamos sempre entusiasmados com possibilidade de ir até à cidade para visitar os amigos ou ir ao cinema. Um dia o meu pai pediu-me que o levasse até à cidade, onde participaria de uma conferência durante o dia todo. Eu fiquei radiante com esta oportunidade.  Como íamos até a cidade, minha mãe deu-me uma lista de coisas que precisava do supermercado e, como passaríamos ali o dia todo, meu pai pediu-me que tratasse de alguns assuntos pendentes, como levar o carro à oficina. Quando me despedi de meu pai ele disse-me: "Vamos encontrar-nos aqui, às 17 horas, e voltaremos para casa juntos." Depois de cumprir todas as tarefas, fui até o cinema mais próximo.  Distraí-me tanto com o filme, um filme duplo de John Wayne, que ...