O MEC e as más pessoas... desabafos esfarrapados

A propósito do texto de José Morgado e de uma conversa com uma missionária educativa desceram-me estes sentimentos às entranhas. Quando nos sentimos em espiral e sem saída os sentimentos descem do externo para a zona das entranhas, as vísceras e depois... às vezes resulta, outras nem tanto... Pensando bem, acho que é daqui que nasce a expressão "isto vai dar merda" (desculpem o vocabulário).

Não é fácil contradizer e contrafazer o grande globo. Muitas vezes sinto vontade de explodir com as normas que os governadores nos impõem; chamar-lhes muitos nomes feios; de os agarrar pela orelha e enfiá-los numa escola pública, em zona TEIP (Território Educativo de Intervenção Prioritária); de enfiar o MEC numa escola destas e passarmos a 5 de Outubro, em bloco, para lá. Dá vontade de os açoitar porque eles não sabem, e nem querem saber, do que se passa cá fora. A voz da criança é a última ser ouvida e até parece que nunca jogaram ao telefone estragado... desde o que a criança precisa até ao que chega ao MEC, já a mensagem vai toda às avessas. 

Sorte a deles que nunca testemunharam in loco uma criança com fome, ou uma mãe alcoolizada a ir buscar um filho, ou a notícia da criança que está nas urgências porque ontem a carga familiar foi demasiada, ou de crianças que são entregues às comissões porque as famílias não os aguentam mais, ou de professores a bater (física e/ou psicologicamente) nos seus alunos. Quem não presencia isto, e outros milhares de exemplos, concebe as leis para seu próprio proveito engalanador e para governar uma realidade que não aquela em que está inserido. É uma realidade de estatísticas, e de números.

Há coisas que estão na cara que não certo mas continuam a acontecer. O MEC continua a achar que quem ensina melhor é quem tem a data de nascimento mais antiga e quem tem mais tempo de serviço (e se existir um empate entre candidatos ainda vai a ordem alfabética! Coitados dos gémeos professores). O MEC continua a achar que as crianças são seres esponja, que não são criativos e que não têm sensibilidade. O MEC continua a achar que as provas e os exames são a melhor de avaliar. O MEC continua a pensar em primeiro lugar no sucesso da sua política, depois em economia, depois em finanças, depois em autarquias, depois em mega agrupamentos, depois em escolas e por fim, bem no último lugar...na criança (ou no potencial ser económico que ela vai ser). 

Social? (desconheço, diz o MEC) 
Emocional? (isso é alguma marca de cadernos?!, diz o MEC) Espiritual? (por favor, não somos uma seita, diz o MEC) Psicológico? (isso passa pouco por nós, mas se for preciso a escola reencaminha para o Hospital, se tiver que aguardar 2 anos, que remédio... também não há-de ser por aí que o caso fica pior, diz o MEC).

Abomino más pessoas que são professores, educadores e directores.
Abomino más pessoas que são professores, educadores e directores que não colocam em primeiro lugar as suas crianças. E com isto não digo que lhes dêem só colo e mimo, não. Abomino aqueles que não sabem transformar-se em dragões e não fazem TUDO o que estiver nas suas forças para os proteger.
Abomino más pessoas que são professores, educadores e directores que, mesmo recebendo a "ordem" do MEC, não conseguem encontrar uma brecha para proteger as suas crianças.
Abomino más pessoas que são professores, educadores e directores que acham que as crianças podem estar na escolas das 8h às 21h.
Abomino más pessoas que são professores, educadores e directores que não permitem que as crianças, em idade pré-escolar, não durmam e fiquem a ver televisão.
Abomino más pessoas que são professores, educadores e directores que não têm uma pinga de amor para dar às suas crianças.
Abomino más pessoas que são professores, educadores e directores que não sabem, não se informam e não tentem dar o mundo inteiro às suas crianças.

Tenho a sorte de conhecer excelentes missionários educativos! Muitos mesmo! Aqueles que, quando os abutres chegam perto do seu ninho, lançam fogo pelo nariz e as suas crias nem chegam a dar pelo que se passou.

Não responsabilizo o lado da escola ou só o lado da família... há uma questão maior que afecta todos: a família devia ser o principal ninho e vai deixando de o ser. A escola devia ser a segunda família mas o seu ninho está construído em cima de dinheiro, números, estatísticas, comércio, rankings, em vez de afectos, verdade, partilha, construção, cooperação, saber, criatividade, sentido.

Hoje deu-me para isto porque abomino que cortem, ou tentem cortar caminho, aos missionários educativos.
Sou professora, nunca na vida pensei sê-lo. É dos estados profissionais mais nobres e mais desafiantes. Os conteúdos e programas são uma ínfima parte daquilo que fazemos diariamente. Todos os dias somos modelos de exemplo, todos os dias formamos pessoas... e isso não é possível ser medido num exame ou numa prova de aferição. Há quem ainda não tenha percebido isto, talvez porque quando era pequeno tivesse tido uma má pessoa como professor, educador ou director. 

E é por isto, e por todo o resto que não é dito, que cada vez mais tenho vontade de uma escola debaixo da copa de uma árvore.






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