Ou sim, ou sopas...

Há muitos anos atrás a minha catequista, a grande Maria João Sabbo, contou-me um episódio que ainda hoje me visita. Dizia ela que, um dia, na faculdade, depois de uma discussão acesa com um professor, este lhe disse: "Mª João ou é sim, ou é sopas", ela levantou-se e disse: "Sopas, senhor Professor" e saiu porta fora. Uma criança ouvir a sua  meritíssima catequista, contar uma história de rebeldia perante um professor foi O fascínio. Não me lembro dos seus ensinamentos e conselhos cristãos, apenas me lembro deste episódio em que ela não deu a outra face.
Estes dias tenho andado em reuniões constantes com o Tico e o Teco, a fim de decidir se "sim" ou se "sopas"... e não é fácil. Tudo tem o seu tempo de amadurecimento e até chegar à colheita vão alguns dias e algumas noites. Chegar à decisão é arriscar, é escolha, é dor, é cansaço, são prós e contras equacionados. Por vezes chegam-nos pequenos telegramas que nos ajudam na decisão, ou na tomada de consciência da decisão. Depois de escolher o caminho é muito mais fácil... Entramos nele e só temos de seguir em frente, o entroncamento ficou para trás e a meta em frente. Vivo com algumas dores de estômago a parte da decisão, chego até ao ponto extremo da angustia e da indecisão (aqui os aplausos vão para o meu lado Balança). Depois da decisão tomada não olho para trás, não fico no saudosismo, vou começando a caminhar, vou subindo o peito e endireitando as costas. E que bom que é passar a primeira barreira e caminhar para a meta. Eu, por estes dias, disse "sim", estava farta de "sopas". Decidi e agora tomo conta do caminho. Ainda me sinto de ressaca mas, qualquer dia a vida fica sem olheiras e volta a ser fresca e luminosa. As minhas dificuldades de decisões e medos são culpa do meu lado Balança, assim me convenço. Depois inspiro, salto para a onda mais bonita (que é o meu lado Peixe) e por ali vou sendo feliz.
Hoje, depois de sentir o estômago ser torcido num longo programa de centrifugação, recebi uma chuva de telegramas, que me encheram a caixa de correio por algum tempo... hoje o Z., que andava a olhar-me de lado há já algum tempo, quando me viu, abraçou-se às minhas pernas e disse-me que eu estava bonita... hoje a C., que tinha sido retirada à família, voltou e disse que estava com saudades minhas... hoje a B., abraçou-se a mim e ali ficou encostada, com a sua cabeça na minha barriga a sentir-se no meu colo... hoje o D., voltou a dizer-me que o seu desejo era ser irmão gémeo do meu filho... 
Elas sabem, elas são os tais pontos de luz que nos fazem descer à terra para os recebermos, e depois subirmos com eles aos céus. Não é só ter o olhar de uma criança, é preciso ter espaço na alma para confiar no seu olhar, para confiar que podemos seguir tranquilamente no caminho que ela olha. 


Comentários

  1. Hoje também tive um telegrama desses, mas de uma pessoa adulta. Não me levou a tomar decisão nenhuma, mas ajudou-me na certeza que, embora hajam sempre acertos que possam ser feitos (micro-decisões), não devo andar a governar mal a minha vida.
    Que as centrifugações sejam sempre para ajudar a levar à tona. Um beijinho e força, Rita!

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    1. E é preciso Ser grande para podermos receber estes telegramas, e sobretudo para podermos estar disponíveis para eles! Fico feliz Sandra, com os cantos da boca virados para cima, por si e por alimentar estes momentos Sabura! Obrigada! Beijos sabura!

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  2. o Cocas gosta!!!

    O Cocas acha que as pessoas só se devem arrepender do que fazem. Senão morrem arrependidas… de não ter feito!

    Cocas manda beijo sabura...daqui, do Oceanário!

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    1. A lontra manda beijos sabura Cocas! E diz que tens razão, o difícil é chegar à decisão.

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  3. 1) http://www.guardian.co.uk/lifeandstyle/2012/feb/01/top-five-regrets-of-the-dying

    2)

    Recomeça...
    Se poderes,
    Sem angústia e sem pressa
    E os passos que deres,
    Nesse caminho duro,
    Do futuro
    Dá-os em liberdade.
    Enquanto não alcances,
    Não descanses.
    De nenhum fruto queiras só metade.

    E, nunca saciada,
    Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar,
    Sempre a sonhar,
    E vendo, acordado,
    O logro da aventura.
    És Princesa, não te esqueças!
    Só é tua a loucura
    Onde, com lucidez, te reconheças

    Miguel Torga


    Beijo Sabura

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    1. Beijos Sabura ao Miguel e a ti! Obrigada pelas dicas. Continuo a colher do pomar o que a vida me dá. E tenho a certeza que ela já me deu muito!

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