Palhaço pobre

Há por aqui alguém a clicar e que esteja a festejar o carnaval num país quente?!


Em Portugal o São Pedro não dá tréguas. O carnaval está frio e molhado. Muita gente deixou os seus fatos ultra-mega-super brasileirados para enfiar os pés, as pernas, o peito e os braços dentro de um/dois/três casacos de lã, da ovelha serrana.



Ontem brincámos com sol. Hoje brincamos com chuva e frio. O que me deixa mesmo feliz é que, desde miúda que não me mascarava, e este ano já vai para o terceiro dia. Não sei o que se passa. Talvez seja o espírito de contrariar que nos trouxe o 2013. 



O que é certo é que este ano, e talvez devido a esta maldita Troika, os comentários ou olhares de reprovação aos adultos mascarados já não são frequentes. Adulto mascarado só se justificava com a participação num desfile, ou a exorcização de um mal de infância. Este ano, adulto mascarado é louvado porque está a divertir-se, a aproveitar e a contrariar a tristeza que este governo nos oferece. De facto, quando na semana passada fui ver o valor do meu ordenado, achei que me estavam a chamar de palhaça (com todo o respeito e admiração que tenho por eles) e vai daí resolvi assumir o meu estado.



Quando era pequena, no carnaval, mascarava-me sempre de palhaço pobre. Não gostava dos brilhantes e do ar snob dos palhaços ricos. Vestia umas calças largas, umas meias às riscas vermelhas e brancas, um colete feito de remendos e uns sapatos maiores que os pés e de diferentes famílias. Uma das coisas que mais me fascinava naquela máscara era o momento de pintar a cara. Durantes anos, depois de vestir o fato, dirigia-me à casa da vizinha do lado direito e lá acontecia a transformação. Dois grandes arcos brancos por cima das sobrancelhas, duas cruzes pretas por cima dos olhos, uma grande boca pintada de vermelho e que ocupava quase todas as bochechas e no final, o tão aguardado, nariz pintado de encarnado. Não me lembro quanto tempo andava mascarada, não me lembro de ficar triste por tirar a máscara e não me lembro das fantasias dos meus amigos. Só me lembro de me sentir um verdadeiro palhaço pobre, o mesmo que senti quando vi, este mês, o meu ordenado. Este tempo presente levou-me a um passado feliz. Durante três dias comemoro o facto de me andarem a chamar palhaça e de ser cada vez mais pobre. O que eles não sabem é que eu para o ano vou mascarar-me de Isabel dos Santos!  

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