Em modo exame...

Hoje os nossos miúdos de 10 anos vão ser sujeitos à avaliação de português, num exame nacional, que não existia há cerca de três décadas. Hoje os nossos miúdos de 10 anos sofrerão na pele a falta de Humanismo deste governo. Hoje os nossos miúdos de 10 anos devem demonstrar num papel, concebido por uma equipa que nunca os viu, que eles têm todas as competências e são iguais a outros milhares de miúdos de 10 anos. Hoje os nossos miúdos de 10 anos serão sujeitos a uma nova medida deste governo, que vive entre um gabinete e um livro teórico. Hoje os nossos miúdos de 10 anos cortarão a fita inaugural do voltar ao passado. Hoje os nossos miúdos de 10 anos só podem andar com o estojo e uma pequena bolsa para o lanche. Hoje os nossos miúdos vão aprender como a escola é boa para eles... Mas a vida é assim, dizem eles. Há que aprender desde cedo que a vida não é fácil para ninguém, e que, para seu bem futuro, deverão ser sujeitos ao mesmo que os adultos são. É um bom treino. Que eles não podem viver felizes, sem lastros. Para crescermos aqui temos de aprender a andar, desde cedo, no compasso do senhor adulto. Há que aprender que a vida não é feita com muito prazer, só algum. Há que perceber, aos 10 anos, que é normal deixar de comer porque a profissão nos deu um nó na garganta, que é normal deixar de dormir devido aos pesadelos da profissão. Há que perceber que a vida não é acto contínuo. A vida é um acto pontual. A vida tem forma de grelha. Há que perceber que a vida não se avalia pelo tamanho de um sorriso, mas pelo tamanho da prova. Há que perceber que o vermelho não é cor de vida, de beijo, mas sim cor de renúncia, de corte, de errado. 

Hoje os nossos miúdos de 10 anos, as suas famílias e os seus professores são uns heróis de volta ao passado. Que a noite lhes tragam grandes festas, com uma mesa cheia de afectos e a reconciliação com a vida.