Boots are made for walking, keep on moving

Hoje descalcei uma bota e encontrei vinte para calçar de novo...
Depois de uma mudança e da vida ainda encaixotada, não havia meio de encontrar as minhas botas de inverno. Cá fora restavam uns pares de Birkenstock, umas Havaianas, uns Onitsuka e dois pares de sabrinas... tudo, claro, o mais indicado para aqueles dias de chuva e frio. Decidi que tinha de comprar um par de botas, qualquer coisa barata, não-pirosa e que fizesse o "pandan" entre os modelitos vestidos pela "je". Investi, muito contrariada, quarenta euros nas botas. A vida não está para luxos. Quando calcei aquelas botas achei que tinham poderes espe(a)ciais. Com um pouco de salto elas faziam sentir-me na Lua. Na realidade, quando calcei aquelas botas a minha felicidade acompanhou a subida daqueles centímetros. Eram poucos, talvez uns cinco, mas a minha vida começou a levitar de felicidade. Passaram os dias e com o uso diário das botas, a minha felicidade foi acompanhando o desgaste das solas. Eu fui descendo e elas foram ficando cada vez mais gastas. Ou, elas foram ficando mais gastas e eu fui descendo. O certo é que um dia o salto partiu-se. E eu, quase que me partia também. Queda a pique e rezas a São Bartolomeu, Santo padroeiro dos sapateiros. Ou seja, fiquei de sabrinas, Onitsuka e com a felicidade rasa ao chão. Nada é por acaso, por isso, não seria de esperar que o tamanho de uns saltos ou o estilo de um sapato fossem. São Bartolomeu ouviu-me e colocou o salto. Não conseguiu foi repor a felicidade. Salto remendado, mas felicidade em baixo. Passados alguns desesperos de não encontrar a caixa das botas, resolvi acreditar que tudo isto era uma mensagem do Universo para mim (fórmula de "encaixe positivo" para tudo na vida). Mas que mensagem? Tinha de encontrar A Leitura da Mensagem... e não foi difícil... "d e s a p e g o", miúda! "Desapega-te do que tens a mais e não faz verdadeiramente falta" (também nunca cheguei a encontrar uma caixa com roupa de verão, na estação passada). "Be and keep it simple". "Larga, solta". "A tua mãe ia descalça para a escola e não tem joanetes"...e por aí fora. E assim continuei a caminhar. Chuva, frio e um par de botas calçadas, com um salto remendado. Até hoje... até hoje! Até hoje, dia em  descalcei uma bota, aquela bota do salto remendado, e resolvi eu própria remendar o salto da felicidade. Calcei-me na verdade  e trilhei um atalho de amor. Fiz caminho, em cima do meu salto para felicidade. E do cimo dos meus saltos disse toda a verdade, da forma mais honesta e amorosa que consigo. Ainda com um bocadinho de raiva e tristeza por ter partido o salto, mas já com um andar mais tranquilo. E fiquei feliz. E fiquei muito feliz comigo por ter tido a coragem de tudo dizer, de em tudo ser. 
Depois desta largada de lastro, voltei a casa e sabem que notícia me deram? "Encontrámos a caixa das tuas botas!!!"... e ainda dizem que não há coincidências... boots are made for walking, keep on moving!!!  

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