Há dias bons e dias cabrons
Às vezes a vida corre tão ao contrário daquilo que desejamos e planeamos que chegamos a duvidar das forças do nosso corpo. Provavelmente será esta a altura em que somos atacados por vírus e bactérias que nunca ousaram aproximar-se de nós.
Dói-nos o corpo sem nenhuma razão a não ser um mau estar geral. As pernas vergam e já não esticam. Os olhos já não abrem na totalidade. As mãos ficam sempre penduradas e a cabeça pesa em cima do pescoço. Sente-se o corpo pesado e enferrujado. Apetece dormir, fechar os olhos e acordar quando tudo estiver Melhor.
Mas no entretanto (dizia o Godinho) não deixamos de acreditar que tudo se vai resolver e conseguimos ver todos os lados positivos daquilo que de menos bom nos acontece. E somos extraordinários quando percebemos que há sempre qualquer que podia correr pior. Não olhamos para o vizinho e ficamos felizes com a desgraça, conseguimos sim, olhar para nós e perceber que tudo podia ser bem pior.
E ficamos felizes.
E é essa felicidade que nos aguenta quando sai o talão do multibanco (é fácil: não peças talão), quando perdemos os chinelos novos e temos de comprar outros (é fácil compra várias pares de 1euro), quando sai a lista dos manuais escolares (é fácil procura usados), quando olhamos para os dígitos do talão do supermercado (é fácil: vai à mercearia), quando olhamos para o globo e continuamos a viajar na maionese (é fácil: deita fora o globo), quando nos queremos oferecer um mimo e não podemos (é fácil: tu própria és o teu maior mim), quando o carro precisa de ir à inspecção (é fácil?!) , quando cai a coroa do dente (é fácil: inscreve-te no programa do Goucha e crava uma placa ao Maló). É essa felicidade, a de que tudo-podia-ser-pior e de que tudo-se-vai-resolver, que muitas vezes cose os dias às noites. Tudo podia ser pior, tudo vai correr bem (é fácil ! ? ).
Dinheiro não traz felicidade mas ajuda. E ninguém deste século pode dizer que não é verdade. Estamos numa sociedade em que a troca de bens é feita com dinheiro, e não com géneros - embora já existam muitas acções no sentido de promover as trocas (casa, férias...). Escolher um modo de vida desapegado de dinheiro não começa por opção, por norma começa por obrigação, quando se torna opção é porque se conseguiu viver bem abastado antes, tão abastado que se sofreu com esse exagero. Um estilo de vida"o milionário que vendeu o Porsche para se tornar monge", ou o estilo ocidental "quero conhecer o meu Eu e para isso preciso viajar para a India, Bali ou quiçá Buenos Aires"... ou até a senhora que fez a experiência de viver um ano sem dinheiro, antes já teve dinheiro e depois da experiência voltará a tê-lo... eu, ser imperfeito que veio ao Mundo, gostaria de ter esta vida desapegada do dinheiro por opção. Por enquanto é mesmo obrigação. O dinheiro tem tendência a não se colar à minha pele, talvez por ser oleosa.
Por isso, há dias que são cosidos com esta linha de felicidade e gratidão por ter o que tenho, por sofrer pelo que não tenho, mas sempre pensando que tudo podia ser pior e que tudo vai dar certo. Porque na realidade as coisas pelas quais eu sofro por não ter, felizmente, só se podem comprar com dinheiro!
Há uma felicidade genuína que não pode ser comprada com dinheiro. É a felicidade que dá paz de espírito e um coração à vontade por vivermos em verdade connosco e de acordo com os nossos valores e percebermos onde estão as prioridades. É entender que o tesouro está na qualidade das relações que criamos com os outros.
ResponderEliminarÉ também a felicidade de que falas neste texto, de perceber que o contexto da nossa vida não nos define como seres humanos. Concordo que um contexto de grande pobreza normalmente deixa pouco espaço para a compreensão entre as pessoas, ou a busca da criatividade ou a espiritualidade. Somos afortunados por não nos incluirmos nesse tipo de contexto.
Acho que és uma das pessoas mais ricas que conheço em coração. Basta olhar para a tua relação com o guerreiro para ver o amor incondicional. Quando vires o teu copo meio vazio, olha para a caneca em forma de coração que está ao lado :-)
... andei aqui os dias a digerir tão bonita mensagem, Raposo. Quando eu olhar para o copo e ele estiver meio vazio vou lembrar-me de ti, porque eu sou uma afortunada em te ter por perto!
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