Há uma geração de gente que não foi amada, foi criada
Há uma geração de gente mal amada e mal amanhada.
Há uma geração de gente mal cozida no colo dos seus pais, e mal cosida com as linhas que unem e tecem o amor.
Há uma geração de gente que não foi amada, foi criada. Há uma geração que não sabe amar, sabe criar.
Há uma geração de gente que sofreu muito por conseguir e que faz sofrer para conseguirem.
Há uma geração de gente que não recebeu colo, e por isso não o sabe dar.
Há uma geração de gente que não ouviu, e por isso não sabe dizer.
Há uma geração de gente que não falou, e por isso não sabe falar.
Há uma geração de gente que tem sede de poder, e por isso só bebe dessas fontes.
Há uma geração de gente que não gosta de si mesma, e por isso não consegue gostar de mais ninguém.
Há uma geração de gente que sempre precisou de alguém, e por isso pensa que todos precisam dela.
Há uma geração de gente que nunca olhou para si mesma, e por isso é incapaz de olhar para os outros.
Há uma geração de gente que foi tão mal amada, que nunca chegou a viver na vida. Apenas sobreviveu.
Há uma geração que não foi amada, foi criada e sobreviveu. Sobreviveu à fome, à emigração, à falta de habilitações, à falta de cuidados de saúde, à revolução, à explosão do mercado e às crises financeiras. Sobreviveu à partida para a guerra, sobreviveu à incerteza do regresso. Sobreviveu ao abandono da terra, e à incerteza da cidade.
Há uma geração de gente que sempre sobreviveu e que espera que os mais novos sobrevivam também, porque para eles, viver é um luxo que não está ao alcance de todos.
Há outra geração de gente que anda à procura deste colo que não existiu, das palavras que não ouviu, dos abraços que não recebeu. Há uma geração de gente que é valente e encontra, perdido no meio do tempo da sua vida, como é amar-se, amar e ser amado...
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