A morte vive grávida de Tempo




Sinto-a a pairar e a querer ficar.

Imagino-a a aguardar pacientemente,

sentada num banco, de costas curvadas, pé assente na trave do banco, mãos a segurar o queixo

Imagino-a de rosto sofrido

e pele enrugada pelo excesso de vida que tem, 

olhar sereno.

Por vezes de passo indeciso, outras tão decidido quanto o seu ser.

Imagino-a em longas conversas

tentando seduzir quem lhe resiste...

quem caminhou todo o Tempo sem nunca dela se lembrar

quem fez da vida o seu maior Presente.

A morte vive grávida de Tempo 

todos os dias gera novos filhos.

Nenhum deles o deseja ser

mas todos somos filhos dela também

Vivemos em caminho, nunca esperando.

A morte nunca caminhou na passadeira vermelha,

ao contrário de nós que pudemos avistar tanta paisagem

fazer tanta paragem e viver cada minuto... 

como se ele 

fosse esse último.

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