A Moral da História ... "Era Uma vez um dia normal de Escola"


A expressão "moral da história" sempre me fez comichão nos intestinos...

é daquelas expressões que, ao que me consta na memória da pele, deve ter sido bastante pronunciada perto de mim. Sinto que a mesma me tenha sido dita, por diversas vezes, por gente adulta e com um ar severo. 

Cresci a frequentar a religião católica, faltando-me apenas dois sacramentos no passaporte cristão. Cresci com assiduidade na disciplina de "religião e moral" e, nela, com excelentes professores. Cresci a ouvir um dos melhores mensageiros da igreja, o Padre Janela, que me marcou um dia ao dizer, perante a sua audiência dominical, que não voltaria a desfazer a sua barba enquanto não conseguisse o seu objectivo... cresci eu com ele, e as suas barbas nele. Era um homem de palavra e de acção. Cresci no movimento escutista. Cresci sem grandes desvios na vida. Mas tenho cá para mim que, dentro deste conjunto, o meu crescimento tenha sido marcado pela carga negativa dada à palavra "moral".


Não sendo eu o Padre Janela, sou um bocadinho mensageira das histórias que me vão chegando e ficando. Parte do meu lado profissional contempla a narração de histórias. E se há coisa que me tira do sério é quando alguém, ao final do conto, me pergunta: "e qual é a moral da história?!" Irrita-me as vilosidades intestinais e, por norma, atiro a pergunta para outra pessoa até respirar fundo e devolver a resposta em pergunta "que parte da história se colou ao vosso pensamento?!" E é esta resposta que quero ouvir.

Hoje, ajudando o meu Guerreiro na realização de um trabalho da escola, veio a pergunta "Moral da história?" E, como seria de esperar, senti ainda mais a irritação nas vilosidades. 

- O que é a moral? perguntou
- Que mensagem da história te ficou no pensamento? perguntei

Com a palavra a matutar na cabeça decidi "Wikipedar" a palavra Moral e  


"A palavra Moral deriva do latim mores, "relativo aos costumes". Seria importante referir, ainda, quanto à etimologia da palavra "moral", que esta se originou a partir do intento dos romanos traduzirem a palavra grega êthica.
E assim, a palavra moral não traduz por completo, a palavra grega originária. É que êthica possuía, para os gregos, dois sentidos complementares: o primeiro derivava de êthos e significava, numa palavra, a interioridade do ato humano, ou seja, aquilo que gera uma ação genuinamente humana e que brota a partir de dentro do sujeito moral, ou seja, êthos remete-nos para o âmago do agir, para a intenção. Por outro lado, êthica significava também éthos, remetendo-nos para a questão dos hábitos, costumes, usos e regras, o que se materializa na assimilação social dos valores.1
A tradução latina do termo êthica para mores "esqueceu" o sentido de êthos (a dimensão pessoal do ato humano), privilegiando o sentido comunitário da atitude valorativa. Dessa tradução incompleta resulta a confusão que muitos, hoje, fazem entre os termos ética e moral."


Remetendo para a sua origem e acolhendo as palavras "costume, intenção, hábito, regra" compreende-se o porquê de tanta Moral. Transmissão de regras e valores. Até aqui tudo bem. Mas a necessidade constante da exposição da Moral da história assassina o que de bonito ela tem. O invisível, aquilo que cada um precisa de retirar dela, naquele momento em que escuta. Cada escuta permite uma tatuagem na memória da nossa pele, e se não há uma pele igual à outra, como queremos que as tatuagens sejam iguais?

A Moral, a intenção, a interioridade daquela história está lá, e no caso das histórias, é muito mais rico quando a deixamos coberta com fios de seda. Fios esses que, no tempo certo, serão puxados até à pele e onde, cada um à sua maneira, desenhará uma tatuagem na sua memória. 

Moral desta história para mim: cada vez tenho mais a certeza que não quero desventrar a intenção de uma história. Que nos faz falta oferecer histórias. Que nos falta ouvir histórias sem que nos peçam alguma coisa em troca. Que não consigo gostar/ouvir/ler as Fábulas de La Fontaine.

A mensagem que ficou para o meu Guerreiro, hoje, no dia em que pensou na "moral da história", faz sentido para ele. E no dia de hoje, em que eu já senti saudades de alguns dos meus alunos, o que eu agarrei daquela história foi tão diferente do que ele agarrou e do que eu própria já agarrei dela... 

Ele: "A vida pode mudar a qualquer momento" 

Eu: "Somos todos Seres Extra-Ordinários"

A história: "Era uma vez um dia normal de escola" (AQUI)



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