Manisfesto Anti-Trabalhos Para Casa


Manisfesto Anti-Trabalhos Para Casa

Para começar este manifesto devo apresentar-me: sou “professora do 1º ciclo” e mãe de um Guerreiro de Voz Branca com 5 anos e que entrou este ano para o 1º ano.
Porquê este Manifesto? Porque quero deixar público o testemunho da minha posição Anti-Trabalhos Para Casa, enquanto “professora” (prefiro o termo Educador), mãe e cidadã.


Para que serve este Manifesto? Para soltar  a minha opinião, para saber a vossa, para agregar algumas vozes, para reflectir.

Os meus ex-alunos e ex-encarregados de educação já me criticaram, já me amaram e odiaram por causa da minha atitude em relação aos TPC. Até agora a minha posição era construída com base na minha identidade profissional, neste momento de vida, ela passa a ser coadjuvada com a identidade materna!

Qual o principal intuito de um Trabalho Para Casa?
Treino; consolidação; organização; elo de ligação entre a vida da escola e da família.

Manifesto-me
Manifesto-me contra os TPC que não constroem conhecimento, curiosidade, vontade de aprender.

Manifesto-me contra TPC no 1º ano de escolaridade para desenhar números ou letras. Dêem-nos desenhos para fazer, desafios e descobertas para que eu, mesmo em tempo de fim-de-semana, continue com vontade de ir à escola.

Manifesto-me contra os TPC que exigem a presença de um adulto ao lado da criança. Os TPC têm origem na sala de aula, quando chegam a casa os meus encarregados de educação perderam 8 horas de matéria, e todas as suas opiniões podem estar desadequadas em relação ao que me foi transmitido.

Manifesto-me contra um manual de TPC. A minha casa é diferente da vossa, e é impossível fazer sentido o mesmo trabalho para ti e para mim.

Manifesto-me contra os TPC que me desorganizem, que me gerem confusão, frustração.

Manifesto-me contra a quantidade de TPC. A menos que haja trabalho em atraso (e mesmo assim, deverá ser construído um espaço na aula para o fazer) a quantidade de TPC é assustadoramente anormal. Não quero sentir que me despejam matéria e eu depois que continue o trabalho em casa.

Manifesto-me contra TPC, a menos que estes possam construir uma boa relação com a minha casa e família. Exijam-me que me contem apenas uma história à noite, num sítio confortável, sem confusão e que estejamos verdadeiramente juntos e com Tempo.

Manifesto-me contra os TPC porque já cumpri, no mínimo, 8 horas de trabalho. Qualquer pessoa tem o sonho de sair do seu local de trabalho e desligar a sua mente do lado profissional. Quando levamos trabalho para casa ficamos irritados,  a achar que dois dias de folga não são nada e que não parámos. Porque me colocam nesta posição?

Manifesto-me contra tantos TPC e tantas outras Torturas Para Crianças de que os professores tanto gostam de aplicar, como que num gesto de competência académica, e que tantos pais gostam de receber para manter os seus filhos sossegados durante uma hora (pelo menos).

Manifesto-me contra os TPC. Na minha casa tenho de contar a história do meu dia (organização do pensamento, língua portuguesa, matemática, estudo meio, prazer, etc.); aprender a organizar os meus brinquedos (matemática, etc.); jogar jogos de tabuleiro (matemática, língua portuguesa, concentração, etc.); inventar novas brincadeiras (língua portuguesa, matemática, estudo do meio, expressões artísticas, expressão físico-motora); sentar-me ao colo da minha avó/tia/prima/mãe/pai/madrinha e pedir-lhe mimo (prazer, amor, etc.); passear o meu cão na rua (estudo do meio, expressão físico-motora, etc.); brincar livremente (aprender as regras da vida); tomar banho (aprender a cuidar de mim); arrumar o meu quarto (matemática, língua portuguesa, etc.); preparar a mesa para o jantar (matemática, etc.); participar nas conversas à mesa (prazer, amor, etc.); fazer a minha higiene antes de deitar (cuidar de mim, etc.); ouvir uma história antes de dormir (prazer, amor, literacia, língua portuguesa, etc.) e descansar. Não será tudo isto um verdadeiro Trabalho Para Casa?!

Comentários

  1. Como te apoio e compreendo. Podemos criar um movimento anti TPC juntas? Porque sempre o defendi enquanto educadora e agora defendo-o muito mais como mãe de uma criança a quem foi pedido para escrever o seu nome completo em letra manuscrita desde o 1º dia de escola 5 vezes por dia, sem mesmo ela ter aprendido uma única letra manuscrita antes de o fazer. Pensem na frustração e desmotivação que tem provocado. Mas cá estamos nós pais para lhe dar os desafios que precisa para, aos poucos, ser capaz de o fazer sozinha! :)
    Sandra Pacheco

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    1. Obrigada pelo teu testemunho Sandra. Neste momento apenas deposito esperança no amor que a professora do meu filo tem por ele. Já lho disse. Acredito que há muitas práticas que são aprendidas na formação inicial mas que depois, na prática, não são questionadas, repensadas, reflectidas. Acredito que a velocidade que o MEC impõem é de loucos (só podia, eles são-no seguramente) mas acredito que se ninguém chamar a atenção tudo fica na mesma. Percebo-te tão bem, Sandra. Estamos juntos? Não com uma atitude crítica, mas com uma atitude construtiva e de ajuda. Beijos Sabura

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  2. Eu junto-me também. Não sou professora nem educadora, mas sou mãe de 4 filhos com quem quero fazer coisas giras, no pouco tempo em que estamos juntos. Também já escrevi sobre isso, no meu blog (http://coisasdepais.blogspot.pt/2013/01/coisas-de-tpc.html). Já somos 3 :)

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    1. É isso mesmo, Sara. Já te li e é bem verdade. Acho, verdadeiramente, que muitos professores não têm sequer tempo para reflectir nisto. Não desconfio deles. Desconfio e não acredito em quem manda neles. Obrigada pelo teu testemunho. Beijos sabura.

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  3. Completamente de acordo. A pressão sobre os professores é imensa. Há programas e metas curriculares que, a meu ver, não fazem qualquer sentido. Eu respeito muito os professores e o seu esforço. Mas o ensino parece-me desajustado de base, e é essa base que merecia uma discussão séria por parte de todos os envolvidos no ensino (professores, pais e até alunos, que quando são postos a pensar sobre o assunto dizem-nos grandes verdades. Já fiz essa experiência cá em casa :)). Beijinhos, Rita! Sou fã do teu blog!

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  4. Se eu soubesse, fazia um link para este manifesto no meu blogue, caramba!
    Gabriela

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    1. http://beijosabura.blogspot.pt/2013/10/manisfesto-anti-trabalhos-para-casa.html Gabriela é só copiar e colar este link! Obrigada!!!

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  5. A infância é rica em tudo.A escola é o sítio onde as crianças devem encontrar um princípio, um meio e deixar para mais tarde, um fim,Isto porque nela se aprende a ler, a escrever e a contar...e também se aprende, brincando . É nas brincadeiras que se denunciam aqueles pequenos "defeitos" que devem ser corrigidos a tempo. Os valores aqui adquiridos e a aprendizagem em si, enchem uma mochila que elas diariamente carregam às costas.Tantas horas a aprender ... ao fim do dia, merecem o descanso que tanto anseiam.Para que servem os trabalhos de casa?
    Em casa...deixem as crianças respirar, brincar, amar, rir ...serem felizes...serem livres.

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    1. Maria eu tenho Esperança !!! Vamos falar sobre o assunto, dia 23 de janeiro, no Instituto Piaget em Almada. Este "post" já deu bons frutos. Agora temos de passar à prática! Obrigada! Beijos Sabura!

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  6. Completamente de acordo com todas. Sou mãe de um menino que apesar de estar no 2.º ano, a escola para ele é só um ponto de encontro com alguns amigos, não sente motivação, porque também não o sabem motivar. Não desfazendo dos professores que conseguem chegar a todos os seus alunos, mas há alguns, que realmente só sabem despejar a matéria e os Pais que a tentem consolidar. E eu (única mãe que questiona em voz alta, naquela sala de aula cheia de Pais) pergunto: E o tempo da criança?
    Sinto que a mudança, está na pressão que os Pais possam conseguir fazer.
    Se as crianças passam o dia todo (no caso do meu filho, tem aulas das 09H00 às 17H00) na escola, porque é que ainda trazem trabalhos para casa???

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    1. Toda a razão! Nada como os Pais falarem e reflectirem as melhores soluções! Vamos falar acerca disso, em Almada, no dia 23 de janeiro, às 18h. Uma aula aberta com o Professor José Morgado (ISPA). Venha juntar-se a nós. Traga os rebentos!

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  7. Adorei o texto!
    Sou mãe de 1 menina que está no 4º ano e de um rapaz que está no 2º! Cheios de TPC fica pouco tempo para brincar....
    Mas acredito que a mudança tem de começar pelos pais ... A verdade é que os pais não questionam, antes pelo contrario... São eles a pedir trabalhos de casa...
    Um abraço
    Catarina Pardal

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    1. Olá Catarina! Vamos falar sobre isto?! Dia 23 de janeiro, às 18h, no Instituto Piaget - Almada. Junte-se a nós! Entrada livre. Traga os seus rebentos, temos uma sala aberta, ao lado da da conferência, para cuidar deles! Obrigada!

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  8. Onde é que dá aulas?! É de professoras ou professores assim que estou à procura. São tão raros. Admiro a sua coragem. É preciso dar voz a este manifesto e torná-lo maior. Tem-me ao seu lado. Sou mãe de uma criança com 5 anos, que começará o primeiro ciclo já no próximo ano lectivo.

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    1. Obrigada Manela! Neste momento coordeno um projecto ligado à literatura infantil e à poesia, no Instituto Piaget (Almada) e com ele faço intervenções em escolas, no âmbito das aec e das caf. Ainda bem que estamos juntas! Até ao seu rebento entrar analise tudo com cuidado, e sobretudo, que o profissional que lhe calhar à frente, seja Humano e Missionário... Depois olhemos para os métodos... :)

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  9. O meu filho de 7 anos praticamente não tem tempo para brincar durante a semana, pois chega a casa lancha, faz os trabalhos de casa no final destes são horas de jantar e fica só com pouquíssimo tempo antes de deitar só para ouvir uma história ou conversar um pouco ou outra pequena actividade, quando este tempo não é absorvido também pelos trabalhos de casa. Quando é que ele pode ser criança?

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    1. O problema da nossa sociedade... ter medo que tenhamos tempo para ser felizes! Sobretudo um medo deste actual ministro da educação. Temos de agir enquanto pais e tentar, junto dos professores, saber a razão, dar os horários dos nossos filhos/da família e perceber o sentido daquele trabalho. Consegue juntar-se a mais algum pai que partilhe dessa ideia? É importante encontrarmos vozes idênticas às nossas, tal como aconteceu com este manifesto. :) Obrigada pela partilha!

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  10. Adorei! Este ano com a entrada do meu meu filho para o 1º ano deparei-me com os TPC e detesto. Detesto o tempo que não estamos juntos, mas temos que estar juntos. Detesto não ter a certeza de que estamos a fazer as coisas bem. Detesto a falta de prazer. Detesto ter que pensar que temos que ir para casa fazer os TPC, detesto a obrigação. Detesto a falta de tempo. detesto a obrigação. detesto não ter tempo para mais nada. detesto ter que obrigar. detesto ter que fazer entender o que também não entendo. Detesto que seja a unica mãe que na sala do meu filho se manifestaDetesto não termo tempo para ler uma história ou fazer um jogo. detesto a correria ainda maior do que a habitual...

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    1. Eu também detesto! E percebo-a. Detesto ainda mais que esteja sozinha(o) nessa luta na sala do seu filho. Tente falar com a professora (professor) explicando a revolta, mesmo que de forma individual. Mostre-lhe os tempos do seu filho e pergunte-lhe dos seus tempos... o que fazem os professores fora do tempo lectivo? Apreciam esse tempo? Levar trabalho para casa, em adulto, é bom?

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  11. Um manifesto é importante, comunica uma transformação necessária e liga as pessoas. Grata por ele. Entretanto, nestes processos, que cada um mantenha acesa a chama da liberdade de acção aliada á criatividade. o meu filho vai á escola se quiser. e faz os trabalhos de casa se quiser. entrou este ano por opção dele no 1o ano do 1o ciclo. eu assumo a responsabilidade se o meu filho não quiser fazer os trabalhos. se ele quiser faz, se não quiser não faz. que tememos enquanto pais? cada pai/mãe deve reflectir acerca das prioridades enquanto tal e assumi las. ou tornar-se escravo de um sistema. mas que seja uma opção. como o meu filho, até agora, quer sempre fazer os trabalhos de casa, e eu acompanho porque a professora manda enunciados que ele ainda não sabe ler, permitiu me observar e reflectir sobre algo que a sociedade, a escola e os trabalhos de casa reproduzem: a organização separatista. Não se promove um sentido vivo de inter-relação, conecção e ligação ao todo. Os trabalhos, salvo algumas excepções, são repetitivos e monocordicos. Aqui surge uma oportunidade de intervenção. Amanhã vou falar com a professora, sugerindo que pelo menos um dia por semana se permita a autonomia de iniciativa e que em vez de trabalhos pré definidos, o tpc de português possa ser uma carta para o avô velhinho que está longe, e o de matemática irmos apanhar tangerinas para oferecer aos colegas da escola. Que acham? Reinventemos uma nova escola. Ana

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    1. Fico grata também, Ana! Cartas à família, contagem de tangerinas, leitura de uma receita, elaboração de um diário gráfico... anything desde que faça sentido nas aprendizagens e na vida! Tentem elaborar uma lista de tarefas que se possam fazer em casa, e de acodo com as diferentes áreas curriculares. Que estas fiquem expostas na sala e que cada vá colaborando com mais ideias! Obrigada pela partilha, um testemunho bem diferente do habitual! Se tiver mais novidades conte-nos, por favor :)

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  12. Não consigo deixar de comentar...é realmente brutal a carga de TPC que os miúdos trazem ao final do dia. As crianças e os pais chegam cada vez mais tarde a casa, que paciência, empenho e prazer pode existir nesta atividade? As crianças já não podem brincar, não têm tempo para brincar...a sua saúde mental é gravemente afetada. Não é à toa que cada vez mais há casos de "DEFICIT DE ATENÇÃO" e afins...porque será??? Enfiados um dia inteiro na escola e depois mais uma continuação em casa ou em salas de estudo...por amor de Deus...
    Obrigada por existir um espaço onde possamos partilhar estas angústias.

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  13. Onde é que se assina? :)
    Concordo plenamente!

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  14. Oi Rita;
    No meu agrupamento, onde sou Subdiretor, também encetei essa "luta" há já alguns anos. A resistência foi manifesta. Consegui apenas que se limitasse a % a atribuir aos TPC. Tal preocupação era e é tão importante uma vez que o agrupamento está inserido num Território Educativo de Intervenção Prioritária - TEIP. Assim sendo corre-se sério risco dos TPC serem eles próprios geradores de injustiça e desigualdade. Pois sabe-se que a maioria daquelas famílias não valorizam o papel da escola e acabam por não dar suporte aos alunos na realização desses TPC.
    Por estes motivos e por todos os que apresentaste assinarei, claro, o manifesto. Só ainda não descobri onde. Bj

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