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A mostrar mensagens de julho, 2015

... quando a morte bater na porta ao lado da vossa

... e quando ela bater na porta ao lado da vossa nao digam a quem ficou que é preciso ter força  nao digam para ter coragem nao digam que foi o melhor nao digam que a vida continua nao digam que chegou a hora de apoiar quem fica nao digam nada ou digam, mas sem abrir a boca, abram antes os braços abram um sorriso abram o ceu negro e sejam luz e calor, nao digam pêsames digam que estão triste pela perda nao digam os meus sentimentos, digam que estão ali por amor ou nao digam nada,  porque quem fica deixa de ter coragem deixa de ter força deixa de querer vencer deixa de acreditar deixa de estar deixa de perceber deixa de existir no todo que foi até então e tem direito a não comer naquele dia a não falar a não atender a não esperar a não sorrir a não estar a não aceitar a não querer, porque quem fica, fica sem parte e parte para lugar nenhum, fica com  vazio e esvazia-se de tudo, quando a morte bater na porta ao

(de/para quem conhece a sensação de estar longe dos nossos filhos e do seu regresso...)

Chegar basta. Um chegar que faz com a vida comece a surfar na onda. Tudo o que existe de exterior a mim, e que seja negativo, desaparece. E fico com ele, num espaço e num tempo, que mais ninguém conhece. Num espaço ausente e num tempo parado. Chegar basta. Um chegar que às vezes vem meio apressado e despenteado mas que, quando acontece, tem a força de parar o tempo e de pentear pacientemente o final do dia. E fico com ele, chamado-o aos meus olhos, e fazendo-os parar um segundo infinito. Chegar basta. Um chegar às vezes mais cansado e refilão do que o habitual. E fico com ele, a acolher as queixas ao mundo, as injustiças da vida, a má sorte que tem, e elas vão-se dissipando no meu colo. Chegar basta. Um chegar marcado há um dia que é recebido com normalidade. E fico com ele, com essa normalidade, que é um lugar de paz. Chegar basta. Um chegar de há uma semana que é recebido com todas as forças físicas que temos. E ali ficamos nós em abraço apertado, em inalações prof

Congresso MEM, Lisboa 2015... eram só Mariazinhas!

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No tempo "Crático" que temos vindo a atravessar onde as escolas, os professores e as famílias são colocadas na bitola da economia e não da educação, há um conjunto de pessoas Educadoras que se mantém firme e que continua a acreditar.  Refiro-me à Associação do  Movimento da Escola Moderna "uma associação que se assume como um movimento de cidadania democrática de professores, os quais decidiram fazer da sua profissão uma actividade de intervenção nas escolas" (Sérgio Niza). E é bem verdade. O MEM português este ano faz 50 anos e, por estes dias, realiza no Instituto de Educação o seu 37º Congresso.  Ontem fui assistir ao teatro/momento lúdico preparado pelos responsáveis das regionais. E lá estava a Madeira, os Açores, Vila Real, Algarve, Évora, Setúbal, Lisboa, Porto, Tomar, Seixal/Almada... umas dezenas de pessoas que, após um ano duro de trabalho, ainda tem a coragem e a força de, não só preparar um congresso desta envergadura, como também de montar

Expo 2015 - Lisbon South Bay

É sempre difícil o exercício de olhar para dentro e de perceber, nas entranhas, o que por lá se passa.  Sentir a emoção, identificar, olhar, perceber e não julgar.  Ter tempo para o fazer é uma tarefa sempre difícil.  É mais fácil sentir e colocar na prateleira à espera de mais tempo, ou ignorar. E os dias passam a correr e nas prateleiras vão-se amontoando pequenos  bibelôs (ou ficam para sempre vazias quando nem sequer conseguimos sentir o que quer que seja)... o bibelô dos "fornicoques" que nos causa a reacção daquele colega; o bibelô da ansiedade provocada pela não-resposta; o bibelô do medo provocado pela rejeição; o bibelô da neura-cerebral provocado pela falta de educação dos outros e por aí adiante. Entretanto já enchemos umas quantas prateleiras que ficarão a ganhar pó e, por onde, de vez em quando, passaremos os olhos, suspiremos e pensemos "um dia volto aqui com tempo e limpo tudo isto, agora tenho pressa". E ali ficam elas a carregar com o

Tempo passado, presente, futuro

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... e há dias em que se sente o peso do mundo entre o topo da cabeça e a cintura escapular. dias em que não se consegue endireitar as espinhas, aproximar as omoplatas, ou abrir a caixa torácica. daqueles dias em que se soma tudo o que é menos bom, a conta bancária, o local de trabalho, a casa, as distâncias, os projectos, o futuro, o presente e, o melhor somatório é conseguido quando se acrescentam algumas parcelas do passado. dias em que, olhar para alguns momentos do passado, permite descansar do presente e abolir o futuro. não sendo do género saudosista gosto de desenrolar a memória nas imagens do passado, quase como voltar aos álbuns em formato de papel, mas de momento que nunca foram fotografados.  não se trata de uma "viagem na maionese", essa faz-se sempre no caminho para um futuro, mas sim, uma viagem com origem no agora e destino no antes.  um antes que mesmo agora permanece desconhecido. Olhar o passado a partir do presente é ser espectador em plate

Há uma geração de gente que não foi amada, foi criada

Há uma geração de gente mal amada e mal amanhada.  Há uma geração de gente mal cozida no colo dos seus pais, e mal cosida com as linhas que unem e tecem o amor.  Há uma geração de gente que não foi amada, foi criada. Há uma geração que não sabe amar, sabe criar.  Há uma geração de gente que sofreu muito por conseguir e que faz sofrer para conseguirem. Há uma geração de gente que não recebeu colo, e por isso não o sabe dar. Há uma geração de gente que não ouviu, e por isso não sabe dizer. Há uma geração de gente que não falou, e por isso não sabe falar. Há uma geração de gente que tem sede de poder, e por isso só bebe dessas fontes. Há uma geração de gente que não gosta de si mesma, e por isso não consegue gostar de mais ninguém. Há uma geração de gente que sempre precisou de alguém, e por isso pensa que todos precisam dela. Há uma geração de gente que nunca olhou para si mesma, e por isso é incapaz de olhar para os outros. Há uma geração de

Há gente que diz que não devemos voltar ao sítio onde fomos felizes. Não concordo.

Do inesperado da vida Diz-se que não devemos voltar ao sítio onde fomos felizes. Não concordo. Não concordo, desde que consigamos levar uma bagagem diferente daquela que anteriormente levámos. Não adianta voltar ao mesmo sítio, seja ele qual for, tenha ele o tamanho que tiver, esteja ele onde estiver, carregando as memórias passadas e as expectativas futuras porque ele já não existe. Tudo estará diferente. O mundo já girou mais umas voltas, o sol e a lua já se beijaram umas quantas vezes mais. Adianta voltar ao lugar onde fomos felizes, se pensarmos que será um novo lugar.  Já me desiludi (somente porque me iludi) algumas vezes, quando tinha menos Outonos no corpo, querendo voltar ao mesmo lugar. Hoje, não. Sei que não é possível voltar ao mesmo lugar, onde já fui feliz. Eu estarei diferente, ele também. Por isso, volto ao sítio onde já fui feliz.  

Há dias ao contrário

Há dias ao contrário quando acordas de manhã, levas o teu filho ao teu surf, apetece-te por tudo ficar mas não podes... devia ser ao contrário quando visitas uma amiga, na cama de um hospital e vês o que não queres... devia ser ao contrário quando percebes, finalmente, a razão pela qual a carta nunca chegou, porque alguém trocou o lugar do destinatário pelo do remetente... devia ser ao contrário quando recebes uma carta, escrita com tinta de esferográfica e muito amor, e o envelope foi escrito de pernas para o ar... devia ser ao contrário quando fazes contas caseiras orçamentais e, em vez de sobrar, falta...  devia ser ao contrário quando uma ceramista te dedica um poema, e tu nunca conseguirás dedicar-lhe uma peça em cerâmica... devia ser ao contrário  ...  finalmente, e contrariamente ao que estava previsto, quando o fim de semana é alterado, fica ao contrário, e tu passas a poder entregar-te a dois braços... o contrário deu certo e o dia acab