A 15 de Agosto
A ampulheta já tinha escorrido 8 meses e 15 dias de areia quando a lua nova deu luz a dois leões, um de cada género. Um leão e uma leoa. A última não sobreviveu ao frio que se fazia sentir fora do útero da sua mãe. O seu irmão cresceu, aprendeu a caçar com os mais velhos, sobreviveu à luta entre pares. Todos os dias lutava para alimentar o seu dia, nunca para saciar a fome do dia de amanhã. Todos os dias arrumava meticulosamente o seu espaço e apontava na sua mente as passadas dadas. Os elementos do seu grupo, poucos, admiravam a sua entrega nas caçadas a que se propunha. Todos os dias nascia para o presente. Todos os dias se dava de presente à vida. Conheci bem este leão, foi meu irmão durante 27 anos vivos, presentes. O maior presente que me deu foi nascer e viver desta forma. Hoje assusto-me quando vejo pessoas viverem insaciavelmente o presente, parece não terem medo de morrer. Ele não tinha medo e cedo deixou de comemorar os anos em vida, por isso, hoje, presenteio a sua vida no mesmo silêncio com que partilhámos tantas caçadas. Somos juntos, Miguel (cautela com o barulho da festa e com os excessos, cá em baixo bateremos 41 brindes por ti!)
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