A Prova - me, Crato!

Já todos devem saber de mais uma medida do Ministro da Educação português, Nuno Descrato. Desta vez resolveu tapar os olhos ao mundo e à UE, com uma peneira chamada "Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades". Uma prova que apenas serve para efeitos de concurso ao Estado, não para progressão na carreira ou para uma entrada na Ordem dos Professores (naturalmente esta última seria impossível uma vez que não existe Ordem nenhuma)... esta prova apenas serve para: desvalorizar ainda mais a escola pública (naturalmente há gente que prefere não ter de provar nada ao senhor Descrato e ficar pelos estabelecimentos privados, o que, tendo em conta o financiamento que o Estado irá fazer nestes, será a melhor solução); serve para atestar que um professor que todos os anos desespera por uma colocação em qualquer parte do país, ou em que data for, prove que ainda é competente e capaz; serve para colocar em questão o trabalho sério, académico e profissional dos Institutos Politécnicos; serve para mandar embora milhares de pessoas dos concursos do Estado (uma vez que a prova consta de uma primeira parte de resposta com cruzes - estilo exame teórico de condução, onde um pequeno erro é a morte do artista, e onde dez erros atestam a incapacidade e a incompetência de qualquer professor); serve também para "sacar" 40.000 vezes 35 euros (ou 20, no caso de o candidato chumbar na primeira prova), a quem já participa em todos os impostos, taxas e sobre taxas para o Estado; serve para chamar incompetentes, cagunfas, mariquinhas, totós a milhares de pessoas que têm medo e não tendo outra solução preferem dar dinheiro ao Estado e provar que são capazes, do que ficar na fila do desemprego; serve para colegas voltarem a ser agentes da PIDE e serem colocados a vigiar e corrigir a prova dos outros colegas que, em muitos casos, até terão menos anos de experiência enquanto docentes; serve para, mais uma vez, não faltar ao compromisso dos cortes do orçamento; serve para regredirmos mais de meio século na história da educação; serve para dizer que, mediante umas respostas em cruz e um texto de poucas linhas, eu sou competente e tenho capacidades para ser professora. Incrível como este país está desolado de esperança, de vergonha, de falta de escrúpulos e de criminosos no poder. Há uns tempos um conhecido meu dizia que resolvia tudo com uma bomba... na altura tentei "explicar-lhe" que violência gera violência, amor gera amor, etc. Se o voltar  a ouvir falar em bombas tenho de lhe dar razão. "Uma bomba" é a única coisa que me chega ao pensamento quando penso no que este energúmeno está a fazer à educação de Portugal. E o que posso eu fazer, para além de educar os meus alunos e o meu filho a Serem Gente competente, cidadãos activos, pessoas críticas, seres felizes, seres capazes de dar e receber com amor?! Não sei... estou "desesperançada". Estou a sentir que podem "matar" o conhecimento do  meu filho, que lhe podem formatar a cabeça com tanta trampa científica, que vai passar oito horas do seu dia a aniquilar a sua criatividade. E isto agonia, tira poderes e sorrisos. 

Grave é que também me inscrevi na merda da prova. Grave porque também tenho medo. Pouco a pouco eles vão conseguindo levar a água ao seu moinho... um povo com medo. Trabalho numa instituição privada, sem apoios do Estado, e que, como qualquer outra, também não atravessa bons tempos. Inscrevi-me na PACC quando me apercebi que não fazê-lo era fechar uma oportunidade de emprego. Nunca fiz questão de trabalhar no estado, não tenho essa ideologia. Até agora sempre trabalhei onde desejei, junto dos que me valorizavam e com quem eu queria construir equipa. A partir da semana passada vejo/sinto que este país onde moro, para o qual desconto, onde invisto me está a tapar o Sonho, o Futuro. Tenho à frente uma trincheira escavado pelo meu próprio Estado. A barreira da minha vida é o meu Estado (que se intitula livre e de direitos). Por estas razões, a semana passada, dei o corpo ao manifesto e, contra os meus valores, me inscrevi em mais uma invenção deste energúmeno Descrato. Vocês, que não são professores, e que lêem estes desabafos (se conseguiram chegar a estas linhas sem vomitar de tédio.. :) ) já pensaram no que estão a fazer aos vossos filhos, sobrinhos, vizinhos, afilhados... com estas medidas impostas aos professores? Não é só uma classe que é atingida, são todas as pessoas. Estas medidas matam a Educação, e não é difícil perceber isso. E é por isto que eu não percebo porque é que em Manifestações de professores não se vêm Pessoas que não são professores, que são pais, amigos, familiares.
O futuro vai ser ainda pior, e isso preocupa-me, muito!
Não quero esperar, quero ter esperança.
A semana passada vendi-me por 20 euros ao Ministério da Educação e Ciência.
A semana passada senti-me uma puta vendida a um chulo, e esse era o meu Estado.

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