E é nesta altura que nós, mesmo que, por breves instantes, desistimos e deixamo-nos levar. Somos manta morta na Vida.




Às vezes achamos que tudo podia ser mais fácil, que não era necessário tanto sofrimento para perceber aquela verdade, que o Caminho podia ser menos sinuoso e, sobretudo, que já sofremos o suficiente e era altura de o Universo escolher outro alvo. Entramos numa espiral frenética e para sair temos duas hipóteses: ou desistimos, deixamo-nos levar na espiral e só nos levantamos quando esta se dissipa, ou - sempre a mais difícil - damos dois ou três passos ao lado da nossa vida, saímos da espiral e ficamos a olhá-la do lado de fora.
Na maioria das vezes a falta de forças, o cansaço, o desencanto já são tão grandes que todos juntos se apoderam da nossa pele e ali se amontoam transformando-nos em manta morta. E é nesta altura que nós, mesmo que por breves instantes, desistimos e deixamo-nos levar. Somos manta morta na Vida. Entramos em desespero, em estado de raiva, confusão, culpabilização e passamos de Seres racionais e irracionais para somente Irracionais, connosco e com o mundo. 
Enraivecemo-nos, choramos, gritamos, passamo-nos... Naquele momento é aquela verdade que toma conta de nós, mas depois de gastar as energias físicas neste estado alterado-plus o que fica por norma? "Foi preciso descarregar." "Foi o resultado de inúmeras sinapses conduzidas de forma errada." E depois disto o que nos acontece, por norma? Olhamos para o lado e, afastada de nós dois ou três passos, encontramos a solução certa. O botão da máquina, o chave do carro, o local do furo do pneu, o cartão, a vida dos outros, o Amor, um suspiro, uma piada seca...qualquer coisa tão pequena que, no meio de uma espiral tão frenética, ninguém consegue colocar-lhe a vista em cima. Na calmaria da tempestade é a coisa mais básica que podia existir, que sempre esteve ali ao nosso lado e que, inclusive, brilha de dia e de noite! E o que fica depois, por norma? Passamos mal das nossas sinapses, da nossa racional, da nossa irracionalidade e rimo-nos por termos sido tão "lerdos"! E fomos sim, por permanecemos demasiado tempo na espiral. Perdemos tempo de vida naquele redemoinho que passa inúmeras vezes pela nossa vida e nada lhe acrescenta, a não ser como dele escapar.

Desejo meu conseguir dar sempre dois ou três passos ao lado da espiral, ou nem sequer lá entrar.

                                  

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