Rotina de Domingo

Ao Domingo não havia peso, nem obrigação. Havia uma espécie de boa rotina. Rotina tem peso e obrigação mas esta não, era a seu favor. Sabiam o que os esperavam. Ela ficava mais feliz e disponível, não tinha de lhe perguntar nada. Já tudo estava decidido. Ele aceitava e agradecia todos os Domingos estarem descansados, sem pensar em mais nada. Felizes aqueles que constroem boas rotinas. Eles podiam olhar um para o outro com outros sorrisos. Eles podiam estar mais próximos um do outro. Nos outros dias da semana a indisponibilidade era total. Mas ao Domingo não... e tudo graças à boa rotina. 
... Tudo graças às torradas com leite que a minha mãe imponha (e impõe) lá em casa, ao Domingo à noite... 

Um pãozinho aquecido com manteiga quebrava o peso e a obrigação da construção da ementa. Nesse dia, chegássemos de onde fosse, ou estivéssemos o dia todo em casa, o jantar eram sempre torradinhas com leite. E para mim, um jantar de Domingo com torradas, é uma boa rotina. Mesmo que não as faça, elas vêm sempre ao pensamento. O peso da rotina gastronómica esteve sempre presente na minha vida. A minha mãe, apesar de excelente cozinheira, sofria (e sofre) com a construção da ementa. O meu pai era (e é) exímio em destruir o pouco entusiasmo que existia neste processo. Lembro-me de, entre os dois, haver sempre a coincidência entre o que se comia fora de casa ao almoço, e o que se confeccionava para o jantar. E a desconstrução começava aí. Talvez por isso eu prefira os petiscos ao acaso...  

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